Não é de hoje que interagir com máquinas ou robôs é uma realidade na vida das pessoas. No entanto, a maneira como nos comunicamos com a tecnologia mudou muito nos últimos anos. Em destaque, temos o uso da Inteligência Artificial, sobretudo a IA Generativa (IAG).
Agora, algumas cenas de filmes “futuristas” antigos fazem parte do cotidiano das pessoas. Com um simples comando de voz, é possível fazer solicitações para as assistentes virtuais, como a Alexa, o Bixby e o Ok Google.
A ideia de viver uma ficção científica pode soar atraente para alguns ou perturbadora para outros, mas a realidade é que ainda estamos dando os primeiros passos com a IA. E, mesmo assim, os impactos dessa tecnologia já podem ser sentidos em todos os setores, principalmente nas empresas.
As profissões estão se transformando, cargos acabando e novas formas de trabalho surgindo. Como qualquer mudança, apresenta alguns desafios. Mas, no geral, o cenário tende a ser mais otimista para os próximos anos.
Segundo o relatório Global Tech 2023, publicado pela KPMG, as organizações consideram a IA e o machine learning (ou aprendizado de máquina) como sendo as tecnologias mais importantes para alcançar as suas ambições a curto prazo. De acordo com a pesquisa, através da implementação de IA e automação, 63% das empresas tiveram um ganho de rentabilidade ou desempenho.
Além disso, 57% das corporações acreditam que a Inteligência Artificial e a aprendizagem automática, incluindo a IA generativa, vão ajudá-los a atingir os seus objetivos empresariais nos próximos três anos. Porém, é necessário tempo e conhecimento humano para extrair todo o potencial da IA de maneira responsável, confiável e segura.
Nesta reportagem, Guilherme de Assis Brasil, CTO da Softplan, traz seu olhar apurado sobre os desafios e benefícios da IA Generativa e fala um pouco sobre o que esperar dessa tecnologia para os próximos anos. Confira a seguir.
IA Generativa: o que é e como impacta os modelos de negócio
Uma das áreas mais promissoras da inteligência artificial – a IA generativa, permite a criação de novos conteúdos, como imagens, música e texto a partir de modelos treinados em dados existentes. Trata-se de um formato que se alimenta de um conjunto de dados específicos para, através do aprendizado de máquina, prever e produzir resultados.
Uma das IAs Generativas que mais se destacou no mercado no último ano foi o ChatGPT, um modelo de linguagem criado pela OpenAI capaz de “responder perguntas de acompanhamento, contestar informações incorretas, rejeitar solicitações inadequadas e até mesmo admitir seus erros”, segundo o site da empresa.
Além dele, recentemente o Bing foi um dos modelos de linguagem que ganhou a atenção dos usuários. Na criação de imagens, o DALL-E e o Midjourney foram os que mais se destacaram. Em setembro de 2022, inclusive, uma imagem gerada por IA chegou até mesmo a ganhar um concurso de arte nos EUA , gerando debates sobre o futuro da fotografia e da arte digital.
No entanto, mais do que saber o que é uma IA generativa, é importante entender de que maneira as suas aplicações podem realmente afetar o dia a dia das organizações. Ainda de acordo com o relatório da KPMG, 45% das empresas dizem estar priorizando a IA e o aprendizado de máquina porque acreditam que os líderes de mercado já adotaram esse tipo de tecnologia. Mas, ao explicarem o processo de pensamento por trás de suas seleções, o motivo mais apresentado para investir em tecnologias foi o de “copiar os concorrentes”.
E é aqui que a pesquisa destaca que é preciso ter atenção, especialmente em uma era em que recursos não podem ser desperdiçados e o orçamento é apertado. Não basta apenas “seguir o rebanho”. É preciso ter estratégia e intencionalidade, para evitar que projetos se desviem sem rumo e o impulso da transformação digital possa ser bem aproveitado.
O modelo de negócio SaaS e o uso da IA Generativa
Empresas que operam sob o modelo de negócio SaaS (Software as a Service) lidam diariamente com um grande volume de dados: exatamente o que uma IA generativa precisa para evoluir. E o efeito colateral técnico de uma operação SaaS traz diversos elementos positivos para a IAG, uma vez que um acaba retroalimentando o outro.
“Quanto mais dados se têm no modelo SaaS, mais as empresas são capazes de treinar bons modelos de IA generativa. A tendência, aqui, é que essa parceria funcione como uma via de mão dupla.”, explica Brasil.
Ao mesmo tempo que a IA generativa se beneficia do modelo SaaS, este também é beneficiado. Através do machine learning, a IA Generativa possibilita aos softwares a tomada de decisões baseadas nos dados, o que pode ajudar empresas SaaS a prevenir fraudes e tentativas de invasão de sistemas, detectando atividades suspeitas ou criminosas.
Construir uma interação assertiva é o principal desafio
Mesmo em meio à velocidade das transformações por conta dos avanços da Inteligência Artificial Generativa, ainda é preciso fazer o básico: se acostumar com a nova forma que a tecnologia conversa com o ser humano.
Afinal, fomos “ensinados” a esperar sempre respostas diretas das máquinas. Para exemplificar, o CTO da Softplan traz uma situação bastante comum no dia a dia das empresas: “Ao emitir um relatório financeiro, a expectativa é que, diante de uma máquina, se chegue a um número específico e preciso: R$1,2 milhão. No entanto, ao perguntar para um ser humano, é aceitável receber uma resposta como mais ou menos um milhão”.
O desafio envolvido na transição da tecnologia que estamos acostumados para a Inteligência Artificial Generativa está em entender que a resposta não será totalmente precisa, assim como a de um ser humano pode não ser.
É importante, aos poucos, construir melhor os elementos para que as pessoas se acostumem a interagir com ferramentas de IA Generativa (IAG), entendendo que em muitos aspectos ela poderá ser até mesmo incorreta.
Um benefício visível e uma dinâmica muito maior de gestão de informações com o computador. A tendência é que a IA Generativa gere uma ruptura muito grande e positiva em torno da produtividade das pessoas, por sua capacidade de trabalhar exposta a um grande volume de informações.
IA Generativa, experiência e segurança do usuário
Um dos principais benefícios da IA generativa para a experiência dos usuários é a capacidade de personalização, cada vez mais específica.
Guilherme de Assis Brasil aponta que quando a interação deixa de ser baseada na navegação tradicional e passa a ser na conversação, que é a essência da IA generativa, criam-se inúmeras camadas de possibilidades de personalização automatizada para o usuário. “Agora, é possível conversar com o sistema, sem precisar decorar exatamente todos os caminhos para se chegar a um resultado, ao tirar um relatório”, reforça.
Modelos de IA generativa podem ser utilizados em diversos setores de uma empresa: TI, auditoria, recursos humanos, operações, etc. Ao explorar esses casos de uso, é importante lembrar que, apesar das muitas oportunidades que a IA generativa tem a oferecer, ela também apresenta alguns desafios.
Até mesmo quando usada de maneira legítima, a IA generativa tem seus riscos. Os modelos criam respostas com base nas informações que recebem, então, existe o perigo da produção de conteúdos falsos.
O ChatGPT, por exemplo, apresenta o que chamamos de “alucinações”, inventando fatos. Por isso, foi aperfeiçoado utilizando aprendizagem reforçada a partir de feedback humano, a fim de prevenir respostas indesejáveis.
Para garantir o uso adequado e eficaz de IAs generativas é essencial que as organizações criem diretrizes de uso seguro. Com um programa de IA responsável implementado, as empresas podem começar a avançar no desenvolvimento de processos mais confiáveis e assertivos com auxílio deste recurso.
Aplicação da IA Generativa no setor público
O setor público talvez seja um dos locais com maior potencial de gerar um impacto significativo na sociedade através do uso de modelos de IA generativa. Isso porque a natureza de uma operação pública é, na maioria das vezes, extremamente complexa – e uma IA tem a capacidade de resolver processos com um alto grau de complexidade.
Ao aplicar a IA generativa no setor público, a tendência é que o cidadão passe a experimentar serviços mais rápidos, eficientes e mais fáceis de encontrar. “A partir do momento em que é possível encurtar o tempo entre a entrada e a execução de uma demanda, isso mudará completamente a forma como lidamos e recebemos o serviço público”, reforça Brasil.
O desafio, no entanto, é o tratamento de muitas informações sensíveis, até bem mais que o setor privado. Além disso, não é possível admitir grandes falhas, uma vez que isso vai impactar um número muito maior de pessoas. No Judiciário, por exemplo, a interpretação errada dos dados por parte de uma IA poderia, em tese, afetar sentenças.
É preciso redobrar a segurança em relação aos dados e à gestão de riscos, para que possíveis danos sejam devidamente evitados ou controlados. Corretamente treinadas, IAs generativas podem revolucionar a gestão pública.
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O que esperar do futuro
Para os próximos anos, o executivo da Softplan aponta que, junto à IA generativa, podemos esperar um maior processo de especialização das tecnologias.
Ele reforça a expansão da capacidade de comunicação e a evolução de tecnologias novas como o 5G caminhando em parceria com a IA generativa. Ao ter mais possibilidade de interagir com dados em tempo real, a IAG evoluirá rapidamente – e em grande escala.
“Quanto maior o poder e a rapidez da comunicação, mais capilaridade teremos para expandir e aproveitar as tecnologias que demandam maior processamento”, explica.
Discussões sobre governança, privacidade, direito autoral e desinformação associadas à IA generativa ainda serão frequentes. É muito provável que os países criem novas regulamentações acerca do uso de modelos de IA generativos.
Possíveis marcadores ou rastreadores deverão ser implementados, mostrando que o conteúdo foi gerado por uma inteligência artificial, a fim de prevenir as chamadas deepfakes, quando o conteúdo visual ou de áudio é alterado para fazer parecer que alguém disse ou fez algo que não é verdade.
Segundo o Gartner, veremos uma rápida expansão no uso da inteligência artificial generativa e de aplicativos habilitados para IA. Até 2026, mais de 80% das empresas devem adotar essa tecnologia, em comparação com menos de 5% em 2023.
Isso significa que a IA estará cada vez mais presente no cotidiano empresarial, desde a alta administração, que utilizará os insights da IA para tomar decisões estratégicas, até a equipe operacional, que dependerá dela para suas tarefas diárias.
O avanço da IA generativa vai transformar diversas áreas. Mudanças significativas precisarão ser feitas nos processos internos das empresas para que essa tecnologia seja utilizada de maneira segura e assertiva, e que agregue valor ao consumidor. Aproveite e descubra outros impactos da IA generativa aqui!