Transformação além do digital

A criação de valor para as empresas após transações de fusão e aquisição (M&A) abrange desafios estratégicos e culturais que vão além de números e contratos. Aspectos como alinhamento de expectativas, otimização de recursos e construção de uma base para colaboração e inovação se mostram decisivos. 

Sem uma integração das operações e culturas organizacionais harmoniosa e produtiva, há grandes chances de frustrar os objetivos do negócio.

Pesquisas confirmam a importância desse alinhamento. Um estudo da McKinsey, por exemplo, aponta que 95% dos executivos consideram a adequação cultural um aspecto essencial para o sucesso de uma integração. 

No Grupo Softplan, o processo de agregar valor às empresas adquiridas inclui uma abordagem colaborativa e personalizada. O foco está em preservar o capital intelectual, respeitar as particularidades culturais e alinhar processos para garantir crescimento mútuo. 

Para falar sobre o assunto e entender melhor como funciona a criação de valor no Grupo, a Redação Softplan conversou com Sulla Fernandes, gerente de RH, e Carla Cristina de Souza, Diretora de Tecnologia e Performance do Grupo Softplan.

“Não chegamos impondo o nosso modo de operar. Entramos para fazer um diagnóstico, entender o que funciona e como podemos unir forças. É uma via de mão dupla, onde aprendemos com eles e eles conosco,” comenta Sulla Fernandes.

Do ponto de vista específico da criação de valor tecnológico,  Carla Cristina complementa que  como ela é vista como um processo contínuo que busca potencializar negócios através da tecnologia, promovendo eficiência, inovação e escalabilidade, tudo alinhado à estratégia geral do Grupo.

“Atuamos num modelo multimercado e multitecnologia, o que nos permite um ambiente único de trocas e conhecimentos, onde construímos sinergias que trazem benefícios de curto, médio e longo prazo. As empresas adquiridas recebem imediatamente acesso a todos os playbooks de tecnologia e produto, permitindo que tenham acesso a todo o conhecimento existente no Grupo, e são convidadas a contribuir com a evolução desse modelo”, diz.  

Primeiros passos

Em primeiro lugar, é essencial tratar o processo de pós-aquisição com extremo cuidado e organização. No Grupo Softplan, a integração não é apenas uma etapa, mas um plano estratégico contínuo que abrange desde a comunicação inicial até o acompanhamento de longo prazo. Para garantir o sucesso, o Grupo adota um modelo que considera os aspectos operacionais, culturais e de liderança.

“Começamos a estabelecer um contato assim que o deal é fechado. Com isso, já iniciamos uma gestão de mudança envolvendo líderes, RHs e colaboradores, sempre com uma comunicação clara e transparente”, explica Sulla Fernandes.

Essa integração é estruturada em fases: no pré-incorporação, são mapeadas sinergias e pontos de atenção; já na incorporação, as empresas são introduzidas ao modus operandi da holding, incluindo rituais e ferramentas comuns. Além disso, o Grupo adota cronogramas bem definidos e conta com business partners dedicados a monitorar o progresso, garantindo que tanto os objetivos estratégicos quanto as necessidades humanas sejam atendidos.

Carla Cristina ressalta que o processo inicia no momento do anúncio da aquisição, onde a empresa passa a usufruir de todas as bases de conhecimento internas. “Nesse momento são realizados alguns assessments que permitem a criação de um plano de trabalho objetivo. Importante ressaltar que o modelo é agnóstico a processo e ferramentas, permitindo que a empresa siga operando e decida se faz sentido utilizar ferramentas mais padronizadas com o Grupo Softplan”. 

Pilares estratégicos

A etapa inicial desse trabalho é marcada por uma gestão da mudança planejada, que depende de líderes, equipes de RH e colaboradores em um diálogo aberto e transparente. Para garantir que o processo ocorra de forma tranquila, são aplicados assessments culturais e organizacionais, que permitem identificar sinergias e entropias entre a cultura do Grupo Softplan e a das empresas adquiridas.

O trabalho é estruturado em quatro pilares principais:

  1. Planejamento estratégico: antes da incorporação, são estabelecidas metas e cronogramas claros, além de uma análise das necessidades específicas da empresa adquirida;
  2. Gestão de mudança: uma comunicação transparente e frequente é conduzida para minimizar resistências e reduzir a ansiedade dos colaboradores diante das mudanças;
  3. Cuidado com as pessoas: ferramentas são padronizadas e rituais de integração, como encontros de comunicação e celebração, são implementados para reforçar o senso de pertencimento;
  4. Monitoramento contínuo: fóruns regulares são realizados para acompanhar como os colaboradores estão se adaptando e quais ajustes são necessários para assegurar um ambiente saudável e produtivo.

Sulla Fernandes enfatiza que o compromisso com o processo de integração vai além das primeiras semanas após a aquisição. Ele se estende por meses, garantindo que os colaboradores não apenas se adaptem, mas também se sintam valorizados e engajados no propósito do grupo. 

Esse modelo reforça a crença de que o sucesso de uma transação de M&A está na criação de valor para as pessoas, permitindo que o capital intelectual e as culturas se unam para impulsionar os negócios.

“As diferenças culturais são valorizadas como uma oportunidade de aprendizado, incentivando a troca de experiências e a construção de um ambiente colaborativo que potencialize inovação e resultados. Essa abordagem assegura que as diferenças contribuam para enriquecer as soluções, em vez de comprometer o processo”, complementa Carla. 

Ao longo de todo o processo, segurança é uma prioridade. Segundo Carla, o Grupo Softplan segue práticas robustas, como auditorias iniciais para identificar vulnerabilidades, adaptação de ambientes à política de segurança, que inclui a implementação de controles baseados em frameworks como ISO 27001, monitoramento contínuo com ferramentas avançadas de detecção de ameaças e resposta, e capacitações regulares sobre o tema para todo o Grupo. 

Integração eficaz se reflete em crescimento

Casos como o da Prevision, plataforma líder na aplicação de Lean Construction adquirida em janeiro de 2023 e incorporada em março de 2024 pelo Grupo Softplan, exemplificam a efetividade desse modelo. 

Segundo dados de pesquisa pós-incorporação, a taxa de adesão aos valores e cultura do Grupo, uma das métricas para acompanhar o processo de integração, vem aumentando entre os colaboradores: saiu de 65,1% , em abril de 2024, para 87,1%, em outubro. 

Enquanto o processo avança, os números da empresa também apontam para um crescimento. Ainda no primeiro ano de aquisição, a Prevision passou de um faturamento de R$ 8 milhões, em 2022, para R$ 13,5 milhões no fim de 2023.

Bem-estar que impulsiona produtividade

No caso da Checklist Fácil, adquirida em 2021 com o objetivo de estruturar uma nova unidade de negócio voltada à eficiência e produtividade, a estratégia também vem apresentando bons resultados. 

A empresa apresentou altos níveis de engajamento após sua integração, com índices de segurança psicológica ultrapassando os 75%, de acordo com os dados de clima organizacional monitorados durante o processo.

Desde a aquisição, a  Checklist Fácil viu o faturamento passar de R$ 19 milhões para mais de R$ 50 milhões em 2023, com expectativa de superar a marca dos R$ 80 mi em 2024.

Resistência às mudanças é desafio

Mas o processo de criação de valor não está isento de desafios. E um dos principais pontos de atenção diz respeito à resistência à mudança, comum em processos de fusão e aquisição (M&A). Muitos colaboradores enfrentam inseguranças, principalmente ao sair de empresas menores e ingressar em um grupo de grande porte. 

Nesse contexto, o Grupo Softplan trabalha para transformar essas transições em oportunidades de desenvolvimento. “Se antes o colaborador era gerente ou analista em uma empresa de 100 pessoas, agora ele faz parte de um grupo de 3 mil, o que amplia suas possibilidades de carreira,” ressalta Sulla.

Outro ponto desafiador é a integração de ferramentas e processos. Mesmo mudanças aparentemente simples, como a adoção de uma nova ferramenta de comunicação, podem gerar desconforto. 

Para enfrentar essas resistências, o Grupo investe em comunicação clara, explicando as razões por trás das mudanças e destacando os benefícios para a rotina e produtividade dos times.

Do ponto de vista tecnológico, os pontos mais complexos acabam ocorrendo nas integrações entre produtos e nas estruturas corporativas (ERP, comunicação etc.). As 12 aquisições dos últimos anos nos permitiram criar um processo para mapear esses pontos na etapa de pré-deal, reduzindo a complexidade no momento da integração, afirma Carla.  

Avaliação multidimensional

Sulla Fernandes ressalta que o sucesso de uma integração não pode ser medido apenas pelo desempenho financeiro. No Grupo Softplan, a avaliação é multidimensional, com foco em pessoas, cultura e resultados de negócios. Para isso, diversas métricas são utilizadas para acompanhar o progresso.

Uma das ferramentas centrais é a pesquisa de incorporação, que monitora aspectos como onboarding, adaptação às novas ferramentas, segurança psicológica e conexão com os valores da Softplan. “Acompanhamos como os colaboradores estão se sentindo, como está a segurança psicológica e a adaptação às rotinas do grupo. Esses dados nos permitem criar ações mais assertivas,” explica.

Além disso, o Grupo monitora indicadores de clima organizacional e turnover, métricas que ajudam a identificar possíveis gargalos e a implementar soluções preditivas para evitar problemas maiores. A empresa também acompanha SLAs de vagas, mapeando posições-chave para garantir que as demandas críticas sejam atendidas rapidamente.

Outro destaque é o cruzamento dos resultados de pessoas com os de negócios. “Sempre olhamos para o resultado do negócio, cruzamos com o resultado de pessoas e, junto com o time, definimos as próximas ações,” complementa Sulla Fernandes. Um dos indicadores financeiros acompanhados, por exemplo, é o EBITDA, que reflete a saúde financeira da empresa incorporada e seu impacto no grupo. 

Senso de pertencimento e evolução constante

A criação de um senso de pertencimento é fundamental para o sucesso das integrações realizadas pelo Grupo Softplan. Segundo Sulla Fernandes, esse elemento é uma peça-chave que impulsiona resultados expressivos tanto na integração cultural quanto no desempenho dos negócios.

Valores como “Juntos Somos Mais Fortes”, foco no sucesso do cliente e uma visão estratégica orientada para resultados formam a base que norteia as ações do grupo. Esses pilares fortalecem a conexão dos colaboradores com o propósito maior da organização, criando um ambiente colaborativo e engajado.

Sulla relembra um exemplo marcante desse impacto: em uma retrospectiva realizada no fim do último ano, CEOs das empresas adquiridas compartilharam que, após o processo de integração, passaram a se sentir parte efetiva do Grupo Softplan. “Relataram que suas opiniões são ouvidas e que participam ativamente das decisões. Não há imposição; sempre perguntamos se as ideias fazem sentido e compartilhamos os caminhos que pensamos em seguir”, destaca Sulla, reforçando o compromisso do Grupo com a construção de um espaço inclusivo e colaborativo.

O processo de criação de valor das empresas adquiridas, porém, não é estático. Para Sulla, ele está em constante evolução. “Seguimos trabalhando para melhorar continuamente. Estamos amadurecendo a cada processo, construindo mais maturidade a cada dia e a cada empresa incorporada. É um processo colaborativo e em constante crescimento”, diz.

Para Carla Cristina, o sucesso da integração de tecnologia está diretamente ligado à visão de longo prazo. “Não se trata apenas de integrar sistemas, mas de integrar culturas, pessoas e objetivos. Esse alinhamento é o que transforma empresas adquiridas em parceiros estratégicos dentro do Grupo, criando valor sustentável e fazendo com que o Grupo Softplan cresça em maturidade e inovação a cada aquisição”.  

Carla Cristina de Souza

Carla Cristina de Souza

Diretora de Tecnologia e Performance com uma carreira multidisciplinar nos setores de Software, Consultoria e Construção Civil. Experiência ampla em liderança estratégica, gestão de equipes e atuação direta com executivos C-Level. Principais realizações incluem o design e a implementação de frameworks de gestão para operações complexas, estabelecimento de OKRs, liderança de processos orçamentários e desenvolvimento de soluções de BI e analytics para suporte à tomada de decisão estratégica. Expertise em tecnologias SaaS, dados e analytics, governança corporativa, finanças estratégicas, DevOps e gestão e desenvolvimento de produtos. Apaixonada por combinar visão estratégica, liderança transformadora e excelência operacional para impulsionar resultados e gerar valor em organizações orientadas por tecnologia.

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