Desde os primeiros registros históricos até os mercados financeiros modernos, a habilidade de lidar com incertezas sempre desempenhou um papel crucial no avanço das sociedades. No livro “Desafio aos Deuses: A Fascinante História do Risco”, Peter L. Bernstein explora como a compreensão e a gestão de riscos foram fundamentais para moldar o progresso econômico e social.
Para ele, “O risco é a essência da vida, mas precisamos moldá-lo, controlá-lo e nos adaptar a ele para transformar incertezas em oportunidades.” Essa reflexão destaca a visão de Bernstein sobre como o gerenciamento de riscos é central para o progresso econômico e social, especialmente em mercados financeiros, onde as decisões baseadas em dados confiáveis são cruciais para construir relevância e confiança.
Assim como medir riscos é fundamental, a disponibilidade de ferramentas confiáveis e baseadas em dados para mensurar esses riscos também é imprescindível.
Nesse contexto, as agências de classificação de risco desempenham um papel importante no mercado financeiro, fornecendo análises e avaliações que ajudam na tomada de decisões bem orientadas. Para as empresas que buscam garantir sua relevância e conquistar a confiança do mercado, entender os desafios e as estratégias por trás de uma classificação de risco positiva é essencial.
Conceito e principais agências
As agências de classificação de risco surgiram no início do século XX, nos Estados Unidos, durante a expansão do mercado financeiro e a industrialização.
Nesse contexto, investidores enfrentavam dificuldades para avaliar a segurança de títulos de dívida e a saúde financeira de empresas e governos. Em 1909, John Moody fundou a primeira agência, a Moody’s, oferecendo classificações para orientar investidores sobre o risco de crédito.
O modelo foi rapidamente adotado, especialmente após a crise de 1929, quando a transparência e a confiança tornaram-se ainda mais essenciais no mercado financeiro global.
A classificação de risco de crédito avalia a capacidade de uma entidade de honrar suas obrigações financeiras e manter equilíbrio financeiro, sendo baseada em dados como fluxo de caixa, gestão e planejamento estratégico.
Em escala global, as principais agências de classificação de risco são três: Moody’s, Fitch e S&P. Para gerar seus relatórios de avaliação, elas avaliam detalhadamente o histórico financeiro, a gestão da empresa e seu planejamento estratégico, além de realizar comparações com concorrentes do setor e analisar a reputação corporativa.
O processo compreende uma análise minuciosa das demonstrações financeiras, das características das dívidas e do desempenho passado, atribuindo, ao final, uma nota que classifica o risco de crédito envolvido no investimento.
Entendendo a classificação
As agências de classificação de risco avaliam tanto empresas quanto países, com exemplos notáveis como a avaliação da Apple, que possui um rating alto devido à sua forte liquidez e receita, e a classificação de países como os EUA, que tradicionalmente recebem notas elevadas, refletindo sua robustez econômica.
No caso do Brasil, o país perdeu o grau de investimento em 2015, quando as principais agências de classificação rebaixaram sua nota para grau especulativo devido à crise econômica, instabilidade política e aumento da dívida pública.
A perspectiva positiva voltou recentemente. Em outubro de 2024, a Moody’s elevou o rating do Brasil de Ba2 para Ba1, deixando o país a um passo de recuperar o grau de investimento outra vez. Em nota, a agência destacou, entre outras coisas, que o país tem tido um crescimento mais robusto do que o previsto anteriormente. Entretanto, as incertezas relacionadas à saúde fiscal do Brasil que ganharam maior relevância no final de 2024 devem dificultar esse possível upgrade.
Agências de risco consideram o crescimento da receita, a diversificação de fontes, e margens como EBITDA e lucro líquido, que refletem eficiência e saúde financeira.
Empresas com receitas concentradas em poucos clientes ou em uma única região estão mais expostas a impactos negativos, como a perda de um grande cliente ou crises locais – o que afeta diretamente seu desempenho financeiro.
Outro fator determinante é a margem de lucro, especialmente o EBITDA, que reflete a eficiência operacional. As agências buscam entender se a empresa está conseguindo aumentar suas margens ao longo do tempo, o que indica um controle eficaz de custos e crescimento sustentável.
Além disso, o lucro líquido, que considera, adicionalmente ao EBITDA, os juros, depreciação, amortização e impostos, também é cuidadosamente analisado. Empresas com margens mais altas e crescimento consistente são vistas com menos risco, pois indicam uma maior capacidade de gerar caixa e lucros a partir de suas operações.
As características da dívida de uma empresa também são relevantes para a classificação de risco, como o nível de endividamento, as condições das dívidas, as cláusulas contratuais e os riscos de crédito associados a essas obrigações financeiras. O tipo de dívida e sua estrutura impactam diretamente a capacidade da empresa de honrar seus compromissos financeiros.
Uma empresa que possui dívidas bem estruturadas, com prazos e condições favoráveis, será classificada com um risco menor, pois está em uma posição mais confortável para gerir suas obrigações no futuro.
Riscos particulares
O setor de tecnologia enfrenta peculiaridades específicas quando se trata de avaliação de risco, e duas delas são particularmente relevantes para as agências de classificação. A primeira é a obsolescência do produto.
Devido à natureza altamente inovadora do setor, as empresas de tecnologia correm o risco constante de seus produtos se tornarem ultrapassados rapidamente. Esse risco é mais pronunciado em empresas que operam no mercado B2C, onde a pressão por inovação constante é ainda maior.
No caso do Grupo Softplan, a empresa está mais protegida, já que seus produtos são voltados para o mercado B2B, além de sua atuação contar com produtos líderes de mercado e que são referência, e de registrar alto valor reputacional, com uma operação saudável e auto-sustentável há mais de 30 anos.
Mesmo assim, as agências de classificação monitoram atentamente o quanto a empresa investe em pesquisa, desenvolvimento e inovação de produto, pois isso demonstra sua capacidade de se adaptar às mudanças tecnológicas e manter a competitividade.
A segunda peculiaridade se refere à geração de caixa. As agências observam o equilíbrio entre o crescimento da empresa e sua capacidade de gerar fluxo de caixa.
Isso porque muitas empresas de tecnologia priorizam o crescimento acelerado, mesmo que isso envolva um longo período de investimentos pesados sem retorno imediato. Essa estratégia pode levar a um período de “queima de caixa”, onde a empresa pode demorar muitos anos para começar a gerar caixa de forma significativa.
O Grupo Softplan tem se destacado por manter uma margem EBITDA saudável e uma estratégia financeira sólida, gerando caixa desde o início de suas operações, o que reflete positivamente em sua classificação de risco.
Conquista do Grupo Softplan e algumas estratégias
Em outubro de 2024, o Grupo Softplan recebeu o rating ‘A-.br’ pela Moody’s, reflexo de sua solidez financeira e estratégias de crescimento sustentável.
Em sua avaliação, a Moody’s destacou a capacidade do Grupo Softplan em se expandir, especialmente por meio de processos de fusões e aquisições (M&As), além de identificar a diversificação das operações nas verticais de Indústria da Construção, Inteligência Legal, Setor Público e Eficiência Operacional.
A classificação da Moody’s nos leva a observar algumas práticas e estratégias que têm demonstrado bons resultados. Uma das principais é a disciplina orçamentária.
O Grupo Softplan tem se destacado por sua capacidade de planejar e cumprir seus orçamentos, algo frequentemente subestimado em empresas de tecnologia. Demonstrar esse compromisso com o controle financeiro e a execução precisa de estratégias ajuda a consolidar a confiança do mercado e das agências de rating. Essa disciplina orçamentária, alinhada a um crescimento constante e sustentável, é vista como um indicador positivo pelas agências.
Outro aspecto relevante é a governança corporativa. O Grupo Softplan fortaleceu sua estrutura com a inclusão de duas conselheiras independentes, um passo significativo que contribui para a transparência e a qualidade das decisões estratégicas.
A presença de conselheiros independentes, que prezam pela reputação e pela boa gestão da empresa, é outro aspecto altamente valorizado pelas agências de classificação de risco. Além disso, a composição do conselho demonstra a diversificação e o compromisso com a representação de diferentes perspectivas, fator considerado um ponto positivo no processo de análise.
Finalmente, o Grupo Softplan tem demonstrado um equilíbrio saudável entre crescimento e geração de caixa, prática extremamente relevante em um cenário em que muitas empresas, ao buscarem expansão, acabam comprometendo a rentabilidade.
Manter um controle rigoroso sobre as finanças, com foco em iniciativas que tragam tanto crescimento quanto rentabilidade, é uma estratégia eficaz para conquistar a confiança de investidores e, consequentemente, alcançar uma boa classificação de risco.
Esse equilíbrio entre crescimento sólido e geração de caixa está na base da estabilidade financeira e da percepção de segurança que o Grupo Softplan oferece aos seus investidores.
Uma nota, muitos impactos
A classificação de risco da Moody’s resulta em diversos efeitos positivos para o Grupo Softplan, especialmente no que diz respeito ao conhecimento do mercado sobre a empresa e ao seu custo de capital.
Como uma empresa não listada na Bolsa de Valores, o Grupo Softplan, até então, não estava sujeito a um volume significativo de análises externas, como ocorre com empresas de capital aberto. A classificação de risco, portanto, melhora a visibilidade da empresa no mercado financeiro, oferecendo uma visão mais clara sobre seus potenciais de crescimento, suas estratégias e os riscos de crédito associados ao seu negócio.
Esse processo de transparência, em que são expostas informações importantes como resultados financeiros e projeções futuras, é fundamental para que os investidores compreendam melhor o negócio e se sintam mais seguros ao tomar decisões de investimento.
Um impacto imediato dessa melhoria na visibilidade é a redução do custo de capital. Um bom rating pode diminuir a taxa de juros cobrada pelos credores da empresa, a exemplo do que acontece nas emissões de debêntures.
Isso ocorre porque os investidores, ao perceberem que o Grupo Softplan é uma empresa com baixo risco de crédito, exigem uma remuneração menor, pois entendem que a empresa está crescendo, diversificando suas operações e consolidando sua liderança nos mercados onde atua.
A redução nos custos de captação de recursos pode ser um diferencial importante para a expansão da empresa e sua continuidade no mercado competitivo.
Além disso, a classificação de risco também pavimenta o caminho para a evolução da governança e da transparência dentro da empresa. Ao abrir suas informações financeiras e estratégicas para o mercado, o Grupo Softplan demonstra um compromisso com melhores práticas de governança, o que é um passo importante para se tornar uma empresa de capital aberto no futuro.
Esse processo de “abertura” proporciona uma maior segurança para os investidores, pois eles têm uma visão mais clara sobre a situação financeira e os riscos do negócio.
Para quem pretende investir ou até mesmo adquirir ações no futuro, ter acesso a essas informações serve como referência para uma tomada de decisão mais informada.
Por fim, a classificação de risco impacta ainda diretamente clientes e fornecedores, já que o selo de uma agência como a Moody’s reforça a imagem de solidez e credibilidade. Empresas que buscam fazer negócios a longo prazo preferem associar-se a parceiros estáveis, com boa reputação e financeiramente seguros, o que pode facilitar a conquista de novos contratos.
Além disso, a boa classificação também facilita aquisições, pois oferece maior confiança aos vendedores de empresas, garantindo o pagamento das transações. Esses fatores, juntos, criam um ciclo positivo que impulsiona o crescimento e a consolidação do Grupo Softplan no mercado.
Rating cada vez mais relevante
Olhando para o futuro da classificação de risco, parece plausível imaginar que, à medida que o mercado financeiro evolui e o número de investidores se amplia, ela se tornará cada vez mais relevante, especialmente no setor de tecnologia. Com o aumento da participação de investidores menos especializados, esses relatórios oferecem uma base sólida para a compreensão dos riscos e potenciais de uma empresa.
Como a tecnologia é um dos setores mais promissores e dinâmicos, a análise detalhada fornecida pelas agências de rating será fundamental para que os investidores, novos e experientes, possam tomar decisões mais informadas. Esse movimento reforça a importância do rating como uma ferramenta para aumentar a transparência e o conhecimento no mercado.
No Brasil, embora muitas empresas de tecnologia ainda não publiquem informações tão detalhadas quanto as listadas na bolsa de valores, a tendência é que o nível de transparência e análise de mercado continue a avançar.
O setor tecnológico brasileiro está passando por um processo de amadurecimento, que o tornará mais atrativo e acessível aos investidores, à medida que as empresas evoluem e suas práticas de governança se alinham com as melhores do mundo.
Esse amadurecimento também cria oportunidades para análises mais profundas, semelhantes ao que já ocorre em mercados mais maduros, como o dos Estados Unidos, onde a quantidade de grandes empresas listadas permite uma maior especialização nas análises de risco de crédito.
Além dos números
Ao final, voltando ao exemplo do Grupo Softplan, podemos dizer que ele reforça a ideia de que alcançar uma boa classificação de risco é, antes de qualquer coisa, uma consequência natural de práticas financeiras e de governança consistentes.
Empresas que buscam relevância e confiança no mercado, portanto, devem olhar para além dos números e investir em uma gestão estratégica, responsável e comprometida com o futuro.
No caso do Grupo Softplan, a classificação “A-.br” pela Moody’s é um reconhecimento dessas estratégias, como boas práticas de governança, disciplina orçamentária e comprometimento com o crescimento sustentável.
Sendo assim, mais do que um selo de prestígio, a classificação de risco é um reflexo da maturidade organizacional de uma empresa. Ao abrir suas informações para análise criteriosa, são demonstradas a solidez e também a disposição em adotar as melhores práticas de mercado.
Esse processo cria um ciclo virtuoso, no qual a empresa atrai investidores e reduz custos financeiros, além de reforçar sua reputação e se posicionar como um parceiro confiável para negócios de longo prazo.