O Brasil tem hoje mais de 12,7 mil startups em seu território. Esses dados da Associação Brasileira de Startups mostram como esse tipo de negócio é promissor, mesmo com as baixas no mercado de startups nos últimos anos.
Um dos motivos foi a alta global dos juros, que gerou escassez de investimentos nos setores ligados à inovação. Com isso, investidores e empreendedores passaram a olhar com mais atenção para o futuro do ecossistema de startups.
Mas então o que podemos esperar do mercado brasileiro de startups para 2024? Bruno Henrique Silva, Gerente de Integração da Softplan, nos auxilia a entender melhor esse cenário.
Continue a leitura, veja quais são as perspectivas de crescimento do setor e saiba como uma startup pode se destacar em 2024.
Mercado de startups: uma visão geral dos últimos anos
Especialmente em 2021 houve um aumento considerável nos investimentos em startups no mercado brasileiro. No entanto, em 2022, esse setor passou pelo fenômeno que ficou conhecido como o “inverno das startups”, devido à queda brusca no volume de aportes.
Embora em 2023 várias startups tenham alcançado o posto de unicórnio – que são aquelas avaliadas no mercado em 1 bilhão de dólares – houve uma queda de 60% nos aportes do segmento em comparação com 2022.
Esse índice foi levantado pelo relatório Inside Venture Capital, da plataforma Distrito, que comparou os investimentos no mercado brasileiro de startups no mês de maio de 2022 com o mesmo período de 2023.
Para o restante de 2023, a tendência é de que a inflação e os juros se mantenham mais altos. No entanto, o investidor segue atento às perspectivas de melhora para o ano que vem, pois o cenário é otimista.
Mas, para que se possa analisar com mais clareza as tendências de 2024, é importante voltar em 2018 para entender como estava o mercado de startups naquele momento.
Mercado brasileiro de startups: de 2018 a 2024
Bruno Henrique Silva, Gerente de Integração da Softplan, associa o período de crescimento das startups entre 2018 e 2021 ao cenário macroeconômico daquela época, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Conforme explicou o gestor: “A política macroeconômica americana é o que dita as perspectivas de crescimento do mercado. Em 2018, o cenário norte-americano e brasileiro era de juros baixos. Isso permitia aos investidores colocar capital em ativos que, mesmo sendo de alto risco – como é o caso das startups – poderiam proporcionar um ótimo retorno.”
Porém, já em 2020 o banco central estadunidense começou a enrijecer. Como consequência da pandemia, a taxa de juros se elevou para que os governos federais pudessem dar atenção e aporte financeiro à população.
“Nessa época, o banco central americano aumentou a taxa de juros em torno de 5,5%. Então, o investidor que antes estava disposto a colocar seu dinheiro em ativos de risco começou a ponderar essa escolha. E foi aí que tivemos um inverno de startups”, esclarece Bruno.
Contudo, o gestor prevê que 2024 será um momento de retomada para o mercado de startups. Isso porque o cenário de virada, do ponto de vista da política macroeconômica norte-americana, é de diminuição na taxa de juros.
“Assim, conforme as startups foram se mostrando aptas a receberem novos ativos, a expectativa de retorno dos investidores também voltará. Esse será um movimento gradual e, a princípio, para poucas empresas. Então eu diria que passaremos agora por uma espécie de primavera de startups”, analisa Bruno.
A IA teve um papel significativo no aumento dos investimentos em startups em 2023?
Em 2023, o total de investimentos no mercado de startups foi de US$ 778,1 milhões no primeiro semestre do ano. Apesar de ser um número significativo, esse índice é menor do que o valor investido no mesmo período em 2022. E, sim, a IA (Inteligência Artificial) teve um papel importante nisso, porém, este recurso não foi o único responsável por esse aquecimento.
O relatório “Do stand by ao infinito”, desenvolvido pela LLYC em parceria com a iDeals e a M&A Community, apontou os seguintes motivos como responsáveis pela queda de investimentos em startups: incerteza geopolítica, cenário macroeconômico e aumento das taxas de juros.
No entanto, o relatório da LLYC também prevê grandes chances de recuperação do setor em 2024, justamente no que diz respeito ao acesso às novas tecnologias proporcionadas pela Inteligência Artificial (IA).
Bruno concorda com esse raciocínio, mas chama atenção para o fato de que a retomada do mercado brasileiro de startups depende de vários fatores, não só da IA.
“Podemos dizer que, numa perspectiva multivariada, a IA é sim um fator que ajuda a melhorar a eficiência operacional, deixando as startups com soluções mais robustas e inteligentes. Isso naturalmente atrai mais investimentos. Porém, a IA sozinha não é capaz de ditar esse momento de retomada das startups. De qualquer forma, trabalhar com inteligência artificial é algo que será praticamente obrigatório para qualquer empresa de tecnologia nos próximos anos”, avalia o gestor.
Para 2024, o que podemos esperar do mercado de startups?
O cenário para a retomada das startups pode ser considerado otimista devido ao ciclo de virada macroeconômica norte-americana, no sentido da diminuição nas taxas de juros.
O gestor Bruno Henrique faz uma analogia bastante didática para explicar esse momento: “Aquele período entre 2018 e 2020 foi como um momento em que o mercado de startups bebeu de várias fontes e, logo depois, acabou tendo que lidar com uma certa ressaca, pois a conta veio.”
No entanto, ele pondera que esse movimento será gradativo: “Acredito que o mercado vai acelerar aos poucos e de uma maneira mais seletiva. Porém, conforme as startups forem demonstrando potencial para receberem o ativos, os investimentos naturalmente vão acontecer”, reforça Bruno.
Quais são os segmentos que devem se destacar nos próximos anos?
Para Bruno, o setor de fintechs, que durante muito tempo foi considerado atrativo, dá espaço aos setores que ainda estão pouco digitalizados. O Agro e o segmento energético são alguns que vêm chamando mais atenção pelo potencial de crescimento.
“O agro, por exemplo, vai vir com tudo daqui pra frente. Já estamos vendo a digitalização desse setor a partir da gestão inteligente de fazendas, do uso de ferramentas de IA para gerenciar a produtividade no campo, etc. Outro setor que acredito que vem forte é o mercado de energia, ainda mais se a gente considerar as novas regulamentações sobre obtenção de energia elétrica que estão previstas para tramitação até 2028.”
Quanto à área da saúde, esse segmento é um dos que mais sofreu impactos positivos da digitalização das soluções e consequente melhora nos serviços prestados. “Embora já existam muitas startups no mercado da saúde, com esse boom de inteligência artificial vindo por aí, esse setor pode se desenvolver ainda mais”, prevê Bruno.
Como uma startup pode se destacar no mercado em 2024?
A capacidade de execução é um dos principais critérios para uma startup se destacar nos próximos anos. Entretanto, mais do que a viabilidade de “fazer acontecer”, essas empresas precisam ter um planejamento estratégico claro e prático.
Na visão de Bruno, o que às vezes acontece é que a empresa tem um ótimo eixo de projeções, mas falta capacidade de execução para fazer o mínimo, além de um time alinhado e consistente nos mesmos propósitos. Nesse sentido, o gestor destaca o foco como outro critério essencial para quem deseja se destacar no mercado brasileiro de startups.
“Aqui no Brasil nós temos vários tipos de empreendedores, inclusive aqueles que montaram uma startup tech sem ter qualquer preocupação inicial com a geração de caixa. E hoje eu acho que isso deve ser uma prioridade no setor. Você tem que gerar caixa, ter uma boa capacidade de execução e um time muito bom ao seu lado, além de pé no chão”, finaliza o gestor.
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