Projeto Vs. Produto: você sabe a diferença?
O crescimento da cultura de produto nas empresas e a percepção de que muitas pessoas não conhecem o que isso significa, despertou-nos o interesse em falar sobre esse assunto. Afinal de contas, a área de produtos tem se tornado cada vez mais relevante no universo dos negócios.
Quando começamos a pesquisar sobre produto, de forma geral, encontramos muitas informações. No entanto, poucas estão focadas no conceito em si e em sua diferenciação do que seria um projeto.
Assim, os conteúdos acabam se tornando difusos, o que gera dificuldade para quem está iniciando ou querendo conhecer melhor o tema. Especialmente no que diz respeito às diferenciações entre projeto vs. produto.
A intenção deste artigo é tornar a sua vida mais fácil na hora de compreender esses dois conceitos. Continue a leitura!
Vamos começar discutindo o conceito de projeto. O que isso significa?
Projeto Vs. Produto – 1º: O que é projeto de software?
Ao longo da história da humanidade, o trabalho e suas definições foram se organizando lentamente. Nessa história, diversos projetos foram desenvolvidos, a exemplo das pirâmides, a muralha da China, o grande colisor de Hádrons…
E, ao longo do tempo, foi percebido um grupo de características em comum entre os projetos que os diferenciam das tarefas rotineiras. Em geral, eles têm objetivos bem definidos e prazo de conclusão.
Segundo o Guia PMBOK, o projeto é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. A sua natureza é temporária, tem início e término definidos.
A intenção, quando trabalhamos com diversos projetos, tanto de construção de uma casa ou um projeto de software, por exemplo, é atender ao cronograma e atingir o foco principal: a entrega do projeto.
Uma das primeiras obras relacionadas ao tema é datada de 1697, o ensaio “An essay on Projects” (Um ensaio sobre projetos). No entanto, um dos grandes avanços na temática aconteceu em meados do século XIX, por meio das ideias de produtividade de Frederick Taylor, que focava na divisão do trabalho em tarefas pequenas e distintas.
Exemplos de gráficos de projeto
Não podemos esquecer de citar Henry Gantt, que trabalhou com o próprio Taylor. Ele é inventor do gráfico que levou seu nome, constituído de barras, sendo que cada barra representa uma tarefa e seu tamanho representa uma duração.
Do campo de conhecimento de projetos surgiu a disciplina de Gerência de Projetos. Na década de 50, surgiram dois métodos muito conhecidos chamados de CPM (Critical Path Method) e PERT (Program Evaluation and Review Technique).
Eles se popularizaram muito após a divulgação de estudos que mostravam o desvio em prazo e custos de projetos que não eram gerenciados.
Reforçando o conceito de Projeto, o PMI define como “um conjunto de tarefas, arranjado numa sequência ou relação definida, que produz um efeito ou saída pré-definida. Um projeto sempre tem um começo, meio e final”.
Além do objetivo e prazo, um projeto tem inúmeras outras características importantes. Por exemplo: custos,riscos, requisitos (escopo), viabilidade, qualidade, planejamento, conflitos, documentação, aprendizados e etc. Para cada um desses itens existe uma grande área de conhecimento e estudo, com diversas técnicas e ferramentas para se aplicar.
Manifesto Ágil
Em 2001 ocorreu a oficialização do Manifesto Ágil, onde 17 profissionais de desenvolvimento de softwares empenhados em inovar a entrega de software, trouxeram premissas à comunidade que mudou a perspectiva na época.
Esse manifesto expôs 4 valores e 12 princípios, que procuravam mitigar os problemas que a indústria de software sofria na década de 90, como, por exemplo: atrasos, estouro no orçamento, e softwares com baixa qualidade.
Apesar do esforço intenso desses profissionais no desenvolvimento, criando várias abordagens para melhorar as entregas como XP, FDD, SCRUM, entre outros, se fez necessário o Manifesto. Por meio dele foi viabilizada uma evolução no desenvolvimento de softwares, com soluções mais limpas que gerassem valor e minimizassem erros.
Essas contribuições serviram tanto para projetos como para produtos da nossa atualidade.
Como o objetivo desse artigo não é aprofundar tanto assim em projetos, mas sim identificar e diferenciar projetos de produtos, acreditamos que com esse breve resumo já temos uma boa ideia do que se trata um projeto.
2º: O que é Produto de software?
Agora vamos falar sobre produto. Produto é um bem, físico ou virtual, feito para resolver um problema, atender uma necessidade ou satisfazer um desejo.
O foco do produto é o resultado.
Como o foco do produto é o resultado, ele está sempre em constante evolução.
Primeiramente, temos o processo de Discovery (descoberta). Ele inclui a equipe de Produto aliada a equipe de UX (Experiência de usuário) de forma mais efetiva, mas inclui também a equipe de Engenharia que complementa a ideia de como fazer as hipóteses que estamos levantando. Podemos ter um entendimento melhor na figura abaixo:
Além do processo de Discovery, temos o Delivery (entrega), que trata do desenvolvimento (transformar a hipótese em algo visível para o usuário) com o time de Engenharia de forma efetiva.
Esses processos não são rígidos, sempre evoluem através do aprendizado, que, ao longo do ciclo de vida do produto, se adapta e se modela.
O foco no produto nos permite aprender, adaptar e manter o objetivo no resultado. O que se busca é o “outcomes over output”, ou seja, a melhor experiência para o nosso usuário frente a quantidade de softwares entregue.
Essa frase é um título do livro de Joshua Selden, que aborda muito bem o tema. O livro demonstra que conseguimos potencializar os resultados para o negócio quando otimizamos as decisões de produto.
É o caminho feliz quando o negócio e o produto estão em sintonia. Assim como o projeto, o produto tem um ciclo de vida. Esses ciclos são de uma forma diferente dos ciclos de projetos no que tange o tempo. As fases do produto são mais ou menos duradouras, dependendo do fator de retenção (grau de aceitação dos usuários).
Exemplo
Podemos descrever da seguinte forma: quando iniciamos e lançamos nosso MVP (Mínimo Produto Viável), temos uma versão inicial que entrega o essencial de valor ao nosso usuário.
Nesse momento, o que ocorre são apostas, pois corresponde a introdução do produto no mercado. Após esse período, acontece o ciclo de crescimento do produto. Neste momento, lançamos novas versões que atenderão as necessidades do usuário (baseado nas métricas e insights de uso coletados), que promoverão ou não o Product Market Fit (seria dizer: “deu bom”, o produto engajou no mercado).
Chegar nessa fase de grande crescimento de usuários e engajamento das features criadas é um abismo que nem todos os produtos conseguem atravessar. Com essa travessia, o produto já “crescido” e reconhecido no mercado, chega à maturidade (ponto alto). Nesse momento ele alcançou todo o seu potencial.
O desafio agora é perdurar esse momento, evitando retrocessos significativos. Por fim, temos o declínio, onde todo produto chegará algum dia.
Alguém lembra do Orkut, ICQ, entre outros que já não fazem mais parte do nosso dia a dia?
Podemos exemplificar esses momentos do ciclo de vida do produto e engajamento conforme imagens abaixo:
Projeto Vs. Produto: qual a diferença?
Projeto e Produto apresentam várias diferenças significativas entre si. Enquanto no projeto pensamos em atender o cronograma focados na entrega, no produto buscamos entregar resultado com objetivo de atingir, diminuindo ou extinguindo, as dores do usuário.
Esse interesse não se encerra, se repete ao longo do ciclo de vida do produto.
Outro ponto importante são as diferenças entre o mindset do produto e do projeto. No primeiro, pensamos ao longo do processo em aprender e adaptar à medida que avançamos no ciclo de vida do produto.
Já no segundo, segue-se um plano de projeto (planejado detalhadamente logo no início e seguido à risca), não permitindo mudanças no escopo.
Outro detalhe é a essência do pensamento de produto: apresentar solução que seja importante ao cliente. Produto é diferente de Arte. Se ele não busca resolver uma dor do cliente, então o mesmo não irá dispor de pagamento pela solução. Sendo assim, torna-se desnecessário.
No projeto, o pensamento é diferente. Busca-se atender o escopo sem dar importância essencial à experiência do cliente (que são as percepções e sentimentos relacionados pelo efeito único da interação com o produto).
A preocupação do projeto é seguir o que foi acordado. Muitas vezes, ele não faz mais sentido quando chega a entrega.
Abaixo, segue uma tabela que apresentará mais informações sobre as diferenças entre eles:
Conclusão
Por fim, conhecer projeto e produto é viver em dois mundos com perspectivas diferentes, cada um com sua especificidade.
Este artigo teve o propósito de apresentar essas duas faces para que o seu entendimento sobre eles fique mais claro.
Esperamos ter conseguido tirar algumas dúvidas e contextualizar essas duas vertentes. Afinal de contas, dentro do escopo de um negócio, tanto projeto quanto produto, são essenciais.
Indicamos algumas referências bibliográficas para quem tem interesse em conhecer mais sobre Produto:
- CAGAN, Martin. Inspirado: Como criar produtos de tecnologia que os clientes amam.
- TORRES, Joaquim. Gestão de produtos de Software: Como aumentar as chances de sucesso do seu Software.
- EIS, Diego. Gestão Moderna de Produtos Serviços Digitais: O Produto Digital como meio de entregar valor para o usuário e para o negócio.
- MOORE, Geoffrey A. Atravessando o Abismo: Marketing e venda de produtos disruptivos para clientes tradicionais.
- SEIDEN, Joshua. Outcomes over output.
Além do mais, é sempre bom lembrar que o conhecimento é evolutivo, ou seja, as áreas estão sempre cheias de novidades. Por isso, interaja com as pessoas, tenha sempre em mente o seu lado questionador, e, o mais importante: use EMPATIA na sua vida como gestor de projetos ou de produtos.
Gostou de aprender um pouquinho mais sobre Projeto vs. Produto?
Confira mais conteúdos como esse em nosso Blog!
Escrito pelos Tech Writes:
Mariana Isabel Fernandes Braga da Silva Lima
Vinícius Roggia Gomes