Chip Conley, um dos antigos conselheiros estratégicos do Airbnb, utiliza uma analogia interessante para explicar porque precisamos da inovação. Num cenário lúdico, nós somos os surfistas (os empreendedores) monitorando o mar (o mercado). Os bons surfistas conseguem de longe saber se vale a pena pegar uma onda que passa, ou se é melhor deixá-la passar.
É como um novo negócio, buscando investidores: você deve saber avaliar se aquela empreitada vale mesmo a pena. O surfista que avaliar da maneira certa “qual a melhor onda”, vai pegá-la primeiro. Ou seja, os empreendedores mais antenados se aproveitam do oceano azul e saem na frente dos concorrentes.
Da mesma forma, o surfista também precisa aprender a reconhecer o perigo no mar e escolher quando não encarar o risco. Manter o negócio estável é também uma opção e posicionamento no mercado. O problema é que alguns surfistas sequer percebem a onda chegando, sendo então engolidos pela água. Eles não percebem que a inovação nas empresas, especialmente de tecnologia, são uma estratégia de sobrevivência.
Afinal de contas, quem está no mar precisa acompanhar a maneira como ele se move. E a inovação é uma das melhores estratégias para seguir o seu movimento.
Promover inovação nas empresas (seja incremental ou disruptiva) exige: alinhamento, comunicação, capacitação, implementação e avaliação. Agir de forma assertiva em todas essas etapas é o que define o desempenho da inovação e os resultados obtidos. De acordo com Bignetti (2002), é importante também que, para inovar, a estratégia seja um processo dinâmico.
Já entendemos que a inovação é essencial para se aproveitar as melhores oportunidades. Mas como podemos concretizar tais mudanças em empresas Tech, com cenários sempre tão complexos e ágeis?
Utilizando técnicas e métodos focados na otimização dos processos, reorganizando a estrutura do negócio, dentre outros pontos abordados no conceito de design organizacional.
O design organizacional é uma das formas de fomentar a inovação nos negócios, sendo uma “onda” que deve ser aproveitada pelos empreendedores. Por isso, vamos explicar tudo sobre o tema nesse artigo, além de te ensinar boas práticas para a implementação do mesmo.
Afinal: o que é o design organizacional?
O design organizacional, ao ser aplicado em uma organização, implementa melhorias relevantes no desempenho do negócio. Ele é um caminho interessante na promoção da inovação. Seus principais objetivos são:
Promover a otimização dos processos e a agilidade na tomada de decisões;
Reestruturar (funcional e até mesmo fisicamente) equipes e lideranças para implementar as mudanças necessárias;
Indicar a estratégia de gestão e engajamento das pessoas para absorção da nova cultura e monitorar os impactos destas mudanças.
Assim, o design organizacional revisa os processos e concretiza novos padrões focados nas mudanças desejadas. Esse conceito tem como pilares de sustentação as pessoas, as tecnologias e a visão estratégica da empresa.
É simples: o ser humano age como o ator central da mudança, dominando as tecnologias para concretização dos objetivos estratégicos. Assim, é sempre importante nos questionarmos, o quanto nós, como participantes de uma organização, entendemos nosso papel como agentes de transformação rumo a uma cultura inovadora.
Além disso, os principais benefícios do design organizacional são:
O aumento da eficácia organizacional;
Maior produtividade das equipes;
Redução do turnover;
Retenção de talentos;
Mapeamento das habilidades e dos conhecimentos essenciais da organização;
O impulsionamento da inovação nas empresas como reflexo de todos os itens anteriores.
Quais seriam os passos para a implementação do design organizacional?
Como tudo na vida presume um caminho para se chegar a um objetivo, alguns passos são necessários para implementar o design organizacional no seu negócio. Listamos eles a seguir:
Elaboração da visão de futuro da organização;
Identificação de cenários e padrões atuais de trabalho;
Revisão do propósito e da direção do negócio (novo posicionamento);
Revisão da estrutura organizacional de acordo com os três primeiros itens;
Identificação dos entraves da operação que impedem a inovação;
Promoção de uma nova cultura e de novos comportamentos;
Investimento em pessoas, da capacitação ao reconhecimento;
Estabelecimento de espaços para colaboração e ideação;
Eliminação de barreiras entre setores e equipes;
Preparação das lideranças para um novo modelo de gestão.
Ao definir uma estratégia do processo de design, é preciso avaliar profundamente o cenário atual da organização. Alguns pontos devem ser levantados: seus pontos fortes e fracos, a necessidade de recursos, as expectativas de prazo e as opiniões dos gestores. Só então se deve elaborar uma visão da “nova organização”.
Planejar esta nova visão é um grande desafio. Demanda revisar a estrutura organizacional, simplificar o negócio, reorganizar os times, levantar os recursos necessários e melhorar sistemas e modelos de gestão.
Os diferentes tipos de estrutura dos modelos empresariais (funcional, divisional, matricial, em rede e por projetos) exigem atuações diferentes para a promoção de um design organizacional mais fluido e inovador.
Rever o modelo mental que orienta a atuação de cada área da empresa se faz necessário nesse processo. A partir dessa ação será possível:
Eliminar silos organizacionais;
Preparar gestores antes distantes da linha de frente do negócio;
Descartar ineficiências;
Otimizar as equipes com transparência de responsabilidades e a ruptura da cultura do engajamento pelo poder.
O design organizacional é, portanto, contínuo e gradual, exigindo a sustentação do novo modelo implementado.
A colaboração de todos os níveis da estrutura, da gestão à operação, é essencial para que todas as opiniões sejam consideradas em busca de consenso, responsabilização e complementaridade quanto ao escopo dos novos processos realizados.
A liderança deve promover a clareza de papéis e o empoderamento das equipes, equilibrando responsabilidade e autonomia.
Você sabe o que é holocracia?
O americano Brian Robertson descreve a holocracia como uma nova forma de administrar uma organização. Nessa administração, o peso do poder é eliminado em uma estrutura hierárquica, então substituída por um sistema de distribuição da autoridade. As empresas Globant e Airbnb adotaram essa nova forma de gerenciar.
Para aproximar essa realidade do Brasil, podemos falar sobre o Letras, uma empresa do país que adota práticas diferenciadas de administração.
Você sabia que a empresa Letras, sediada em Belo Horizonte/Minas Gerais, adotou um layout inovador para revisitar, inclusive fisicamente, seu modelo de trabalho?
O escritório ocupa uma área de aproximadamente 500m2, contendo os diferenciais: salas para reuniões ou trabalhos que exigem maior concentração; espaços com propostas mais colaborativas para reuniões informais; espaços de alimentação e descompressão, que tem como extensão natural um terraço-jardim.
Sobre a Letras: Seu principal produto, o site que guarda as letras e cifras de músicas do mundo todo, conta com um acervo de 2.5 milhões de músicas. A cada mês, recebe mais de 90 milhões de visitas por pessoas diferentes.
Confira os cases completos nos links:
Letras – Brasil;
Airbnb – Estados Unidos;
Globant – Colômbia.
Conheça boas práticas de um projeto de design organizacional
Qualquer estratégia de design organizacional exige uma prévia contextualização. É comum e natural que um projeto de design esteja associado a algum outro projeto da empresa, como, por exemplo, a implantação de um novo sistema, internacionalização do negócio, criação de uma rede de franquias, dentre outros.
Por este motivo, aqui estão as boas práticas de um projeto de design organizacional:
Alinhe a proposta de design ao planejamento estratégico: quando o design está “deslocado” do objetivo do negócio, o mesmo não perdura;
Garanta a transparência do processo e a comunicação entre todos os níveis: um design “obscuro” e mal comunicado não convence;
Remodele a cultura considerando os dois primeiros pontos: o design tem como ponto crítico o engajamento das pessoas, e este só acontece quando estas são participadas da mudança e reconhecem os valores da organização como seus próprios valores;
Conheça o case da iQmetrix Software
A Qmetrix Software, empresa canadense sediada em Vancouver, é uma das maiores fornecedoras de soluções de software para mercados de varejo especializados na América do Norte.
Em 2017, a gestão foi confrontada com o desafio de continuar crescendo, porém mantendo o modelo aberto e não hierárquico. O objetivo era manter a transparência e a discussão de ideias como propulsores da inovação. Assim, a iQmetrix optou pela implementação da holocracia, garantindo uma estrutura organizacional fluida e com liderança compartilhada.
A consultoria especializada contratada pela iQmetrix utilizou diferentes ferramentas e métodos para estruturar uma nova proposta de design organizacional.
No entanto, para a surpresa de muitos, as ferramentas são mais tradicionais do que o próprio design em si: análise SWOT, análise das forças de Porter, análise da cadeia de valor, análise da matriz BCG, análise da matriz Ansoff e análise do mix de marketing da empresa.
Mas não se iluda. Como já relatei, o design organizacional é um processo contínuo, colaborativo e evolutivo. Ao optar por um design estruturado pelo conceito da holocracia, a iQmetrix trouxe para sua operação rotineira o uso constante de ferramentas de modelo estratégico para garantir o alinhamento desta mudança organizacional ao objetivo do negócio e a adaptação aos fatores externos que podem impactar na gestão do negócio.
O case da iQmetrix, citado na Harvard Business Review e descrito no livro “Organizational Design at iQmetrix: The Holacracy Decision” (dos autores Ann Chris Street, Ann e Clayton Caswell Frost), é um exemplo de aplicação do design organizacional para manter o cerne inovador do negócio, especialmente durante a sua expansão, garantindo um modelo sustentável de operação através do viés holocrático.
A iQmetrix comemorou 20 anos em 2019, contando com uma rede de mais de 1000 lojas e atendendo a mais de 20 mil pontos de venda do varejo. O negócio realizou mais de 90 milhões de transações em 2019.
Conheça também o case da Oticon!
Além disso, conheça a lista de pioneiros registrada pelo time da Corporate Rebels!
E então chegamos à grande pergunta…
O design organizacional pode estimular a inovação?
Quando o planejamento estratégico de uma organização tem como ponto central a inovação, sua estrutura deve corresponder a este objetivo. Esta resposta passa por redesenhar a operação, a gestão, a cultura e as equipes visando um novo patamar de agilidade e resposta a um mercado cada vez mais competitivo.
Portanto, a resposta é: sim!
Quer ser uma empresa mais competitiva? Garanta um modelo facilitador da criação e discussão de ideias.
Quer ser uma empresa mais transparente na tomada de decisões? Elimine as barreiras de comunicação, reajuste hierarquias e transforme as decisões em planos colaborativos.
Quer promover o aprendizado contínuo da organização? Estabeleça processos de gestão do conhecimento e valorize as comunidades de prática sufocadas por uma operação sem tempo para olhar para o futuro. Afinal de contas, conforme pontua Francischeto et. al (2019), é importante investir na cultura organizacional, e não somente em infraestrutura para fomentar a atividade inovadora.
Em 2016, um grupo de “rebeldes corporativos” criou uma empresa de consultoria especializada em romper com os modelos tradicionais instaurados em diversas organizações. O design organizacional se consolidou como uma das ferramentas mais aplicadas pelo time da “Corporate Rebels” com o discurso “Make work more fun”.
Parece divertido demais para ser uma iniciativa corporativa séria? A “Corporate Rebels” conquistou clientes como Microsoft, SAP, Gucci, Hugo Boss E Daimler.
E qual era um dos princípios centrais de trabalho destes agentes “rebeldes”? As abordagens flexíveis estimulam o empreendedorismo e a responsabilidade dos próprios colaboradores. Em um de seus artigos, o consultor da Corpora Rebels Joost Minnaar enfatiza:
“Organizações rígidas pertencem ao cemitério.”
Modelos como a pirâmide invertida, equipes autônomas e em rede, são abordados como visões realistas do design organizacional focado na inovação e na fluidez do modelo de negócio.
“A cultura orientada para a inovação é definida como um conjunto de valores, normas e artefatos culturais organizacionais que sustentam a capacidade de inovação de uma empresa” (STOCK et al.,2013).
Quando o CEO da Oticon, uma fabricante de aparelhos auditivos da Dinamarca, trouxe para a pauta a mudança radical que a empresa precisava, ainda nos anos 90, seu primeiro passo foi trabalhar o modelo de liderança.
E, assim, Lars Kolind criou o “modelo espaguete”: qualquer pessoa com uma boa ideia é livre para puxar uma equipe e atuar como líder do seu próprio projeto inovador, seja de processo, serviço ou produto.
No entanto, cada projeto precisa competir com todos os outros projetos que tentam decolar. Os colaboradores devem atrair recursos e apoio suficientes para que sua ideia prospere, senão, ela irá perecer.
“When I started at Oticon I felt a huge desire and need to design an innovative, fast moving and efficient organization. And that is what I did.” – Lars Kolind.
Inovação nas empresas: o limite entre o caos e a energia dedicada
O design organizacional se apresenta então como uma prática capaz de reestruturar modelos de negócio para que incorporem a inovação como estratégia definitiva.
Esse processo exige equilíbrio entre a energia gerada por um ambiente fomentador de novos conhecimentos e o foco nas ações planejadas. Isso porque, a inovação, sem a devida execução, não é produtiva nem rentável.
Além disso, o clima estabelecido pela nova cultura deve garantir a segurança psicológica para a proposição das inovações, sem que se confunda criatividade com ausência de alinhamento com os objetivos estratégicos.
Assim como ambientes sustentados pela diversidade, que promovam o intercâmbio entre culturas, precisam ser acompanhados para que a pluralidade não se transforme em conflito.
A orientação à inovação é definida pelo grau em que os componentes favorecem a transformação organizacional. Assim, o design organizacional segue propondo uma revolução no mundo corporativo.
Em tempos de inteligência artificial, big data, e outras tecnologias poderosas, o design organizacional mantém em pauta a importância dos modelos organizacionais e da gestão de pessoas para garantir todo o potencial criativo do ser humano como vantagem competitiva.
Referências bibliográficas:
BIGNETTI, Luiz Paulo. O processo de inovação em empresas intensivas em conhecimento. Rev. adm. contemp., Curitiba , v. 6, n. 3, p. 33-53, Dec. 2002. Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-65552002000300003&lng=en&nrm=iso. access on 09 Feb. 2020. http://dx.doi.org/10.1590/S1415-65552002000300003.
FRANCISCHETO, LEELA L.; NEIVA, ELAINE R.. INNOVATION IN COMPANIES AND CULTURAL ORIENTATION TO INNOVATION: A MULTILEVEL STUDY. RAM, Rev. Adm. Mackenzie, São Paulo , v. 20, n. 3, eRAMG190135, 2019. Available from http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-69712019000300304&lng=en&nrm=iso. access on 09 Feb. 2020. Epub July 10, 2019. http://dx.doi.org/10.1590/1678-6971/eramg190135.
Stock, R., Six, B., and Zacharias, N. (2013). Linking multiple layers of innovation-oriented corporate culture, product program innovativeness, and business performance: A contingency approach. Journal of the Academy of Marketing Science, 41(3), 283-299.
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